escrito por Júlia Vieira
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Este artigo é um convite para repensar a experiência bancária de forma profunda, fugindo das dicas genéricas e olhando para o que as grandes referências do mercado estão realmente fazendo.
Em serviços financeiros, o usuário não compra uma interface. Ele compra tranquilidade.
Como diz Don Norman em The Design of Everyday Things, “design é tornar o complexo compreensível”. No mundo bancário, isso significa reduzir o medo do erro e poucas empresas fazem isso tão bem quanto Nubank e Revolut.
Microinterações, mensagens claras e feedbacks visuais são tão importantes quanto taxas e limites. A confiança nasce quando a tecnologia comunica poder de controle para quem está usando.
Dica de especialista: Prototipe as sensações, não só a tela. Simule feedbacks, microanimações e estados de erro e sucesso. Valide não apenas o fluxo, mas como ele faz o usuário se sentir.
Grande parte da experiência bancária é invisível: autenticação, integração, regulação, backoffice. Designers maduros sabem que UX é mais do que telas é a orquestração de sistemas complexos.
O BBVA é referência global nesse ponto. O banco aplica conceitos de Service Design Ops, onde UX conecta tecnologia, negócios e regulação. Antes de pensar em telas, equipes prototipam jornadas e fluxos que incluem stakeholders internos como atendimento, jurídico e segurança.
Dica de especialista: Crie um mapa do sistema antes de abrir o design tool. Entenda o que acontece entre a intenção do cliente e a entrega real. Isso evita protótipos que funcionam no Figma, mas falham na operação.
Apesar de conhecida, essa prática ainda é negligenciada. Jake Knapp, criador do Design Sprint, reforça que o nível de detalhamento deve acompanhar a incerteza:
Baixa fidelidade: discutir estratégia e hipóteses
Média fidelidade: validar arquitetura e fluxo
Alta fidelidade: testar percepção de valor e confiança visual
Dica de especialista: Em produtos financeiros, valide primeiro o modelo mental do usuário, o que ele entende por “guardar”, “investir”, “crédito”. Só depois refine o layout.
Nos bancos, design não é apenas estético: é uma ferramenta de negociação. UX precisa convencer compliance, tecnologia e marketing simultaneamente.
O JP Morgan Chase utiliza narrativas de design baseadas em métricas de impacto: Redução de tempo, retenção, diminuição de erros operacionais.
Dica de especialista: Apresente seus protótipos com dados. Em vez de “essa tela é mais intuitiva”, diga: “essa solução reduziu o tempo de decisão em 15% nos testes de usabilidade”. Design ganha força quando fala a linguagem do negócio.
Com Open Finance e IA generativa, a interface bancária caminha para desaparecer. As interações acontecem por voz, automações e notificações inteligentes.
Segundo Amber Case, autora de Calm Technology, a melhor tecnologia é a que “interrompe menos e ajuda mais”.
Bancos digitais como Monzo e Revolut já testam experiências onde o usuário mal percebe a interface, o foco está na automação contextual, com o banco atuando como assistente.
Dica de especialista: Prototipe experiências sem interface tradicional: Resumos automáticos, alertas inteligentes, feedbacks auditivos. A UX do futuro é silenciosa, fluida e profundamente útil.
O design bancário vai além da estética. É uma ponte entre promessa e entrega.
Enquanto fintechs aceleram e bancos tradicionais se reinventam, o papel do designer é garantir que a experiência humana continue no centro, criando confiança, simplificando o complexo e projetando o invisível.
UX não é apenas sobre usabilidade, é sobre transmitir segurança, transformar complexidade em clareza e construir relações de longo prazo entre pessoas e serviços financeiros.
Referências e inspirações Don Norman — The Design of Everyday Things Jake Knapp —Design Sprint (Google Ventures) Amber Case — Calm Technology BBVA Design Team — DesignOps & Service Design frameworks JP Morgan Chase — Designing for Trust in Financial Experiences Cases: Nubank, Revolut, Monzo