escrito por Maria Luísa Souto
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As tecnologias modernas nos impulsionam além de fronteiras que antes pareciam intransponíveis. Ferramentas de automação, plataformas inteligentes, soluções baseadas em IA — tudo amplia nossas capacidades de forma exponencial. Mas, como Fagulha, o jovem Tollin da história, precisamos aprender a navegar esse novo mundo sem perder aquilo que nos torna humanos.
O repertório que construímos ao longo da vida — histórias, experiências, conexões — é nossa verdadeira resistência. Em um mundo onde o conhecimento superficial está a um clique ou a um comando de voz, a profundidade se torna nosso maior diferencial. São nossas referências que nos permitem interpretar, contextualizar e, principalmente, dar sentido ao que vivemos.
A IA é capaz de processar volumes massivos de informação com uma velocidade impressionante. Mas só nós conseguimos transformar dados em sabedoria. Quanto mais rápidas e poderosas se tornam as ferramentas, mais essencial se torna a nossa capacidade de pausar, refletir e fazer conexões significativas — um paradoxo silencioso da era digital que exige não apenas velocidade, mas profundidade.
Nesse cenário, a atenção se torna um recurso escasso. Precisamos reaprender a desacelerar — não como uma rejeição ao digital, mas como um movimento intencional de presença. Abrir espaço para a dúvida, para o silêncio, para a elaboração: isso sustenta a profundidade em meio à aceleração.
A criatividade verdadeira precisa do que os psicólogos chamam de “tempo de incubação” — períodos silenciosos, aparentemente improdutivos, nos quais a mente organiza, conecta e reinventa. Em um mercado obcecado por entregas imediatas, proteger esses espaços de reflexão é quase um ato revolucionário.
Segundo a McKinsey (2025), 78% das organizações já utilizam inteligência artificial em pelo menos uma função de negócios, e 71% afirmam usar IA generativa regularmente. No entanto, mais de 80% ainda não percebem impactos materiais no resultado financeiro (EBIT) — um sinal claro de que adoção não é sinônimo de maturidade. Esse dado revela um abismo: produtividade não é, por si só, profundidade. Muitas empresas escalaram resultados, mas não escalaram pensamento crítico. Automatizaram tarefas, mas ainda não conseguiram potencializar a inteligência coletiva — aquela que emerge da troca, da escuta e do repertório humano.
O verdadeiro desafio não é apenas incorporar novas ferramentas, mas cultivá-las como aliadas da sensibilidade e da construção de sentido.
Diante disso, surge uma nova responsabilidade: como cada um de nós — seja no início da jornada, no aprofundamento da prática ou na liderança de times — pode encontrar um caminho que una a potência da tecnologia à construção de repertório e pensamento crítico?
Para Iniciantes:
Use a IA como uma ferramenta de amplificação, não de substituição. Reserve momentos para absorver conhecimento de forma ativa, construindo um repertório próprio — algo que só o tempo dedicado e a curiosidade genuína conseguem nutrir.
Para Especialistas:
Automatize o que for repetitivo. Deixe a tecnologia cuidar do básico e concentre-se no que exige interpretação, contexto e julgamento — aquilo que só sua experiência pode oferecer.
Para Líderes:
Crie ambientes onde a profundidade possa florescer. Use a tecnologia para ampliar o impacto do time, mas invista no desenvolvimento do pensamento crítico e da criatividade coletiva — algo que apenas um ambiente vivo e humano pode inspirar.
Em um mundo que valoriza a aceleração, nossa capacidade de refletir se torna uma forma de coragem. E talvez o futuro mais promissor não seja o mais rápido, mas aquele que sabe integrar com sabedoria a potência da tecnologia à delicadeza da experiência humana.
Se você pudesse ser catapultado para qualquer altura, qual seria a vista que procuraria lá de cima? E, mais importante: o que você traria de volta dessa jornada?
Referências para aprofundar ainda mais a leitura: